quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Para tudo há um tempo...



Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus:
Tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado. Há tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir. Há tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar. Há tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempos para dar abraços, e tempo para apartar-se. Há tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e tempo para jogar fora. Há tempo para rasgar, e tempo para costurar, tempo para calar, e tempo para falar. Há tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo para a paz.
Que proveito tira o trabalhador de sua obra?
Eu vi o trabalho que Deus impôs aos homens:
Todas as coisas que Deus fez são boas, a seu tempo. Ele pôs, além disso, no seu coração a duração inteira, sem que ninguém possa compreender a obra divina de um extremo a outro. Assim eu concluí que nada é melhor para o homem do que alegrar-se e procurar o bem-estar durante sua vida, e que comer, beber e gozar do fruto de seu trabalho é um dom de Deus.
Reconheci que tudo o que Deus fez subsistirá sempre, sem que se possa ajuntar nada, nem nada suprir. Deus procede desta maneira para ser temido. Aquilo que é, já existia, e aquilo que há de ser, já existiu; Deus chama de novo o que passou. Debaixo do sol, observei ainda o seguinte: a injustiça ocupa o lugar do direito, e a iniquidade ocupa o lugar da justiça. Então eu disse comigo mesmo: Deus julgará o justo e o ímpio, porque há tempo para todas as coisas e tempo para toda a obra.


(Eclesiaste 3, 1:17)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Você é



Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pelo no vestibular, os segredos que guardou, você é a sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que arrancou lágrimas, você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisava, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.
Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento do governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.
Você é aquilo que reivindica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia..
Você não é só o que como e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.

(Martha Medeiros)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Gotas de palavras

"Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão... Tranquilidade e incostância. Pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio... Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser.
Não me limito. [Não me limite]"


(Clarice Lispector)