quinta-feira, 27 de junho de 2013

O medo do Amor



Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos da temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.
O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.
E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vida do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.
Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.
Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos cham, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é possível recusá-lo.

(Martha Medeiros)

domingo, 23 de junho de 2013

A Bela e o Burro


Ontem depois que você foi embora confesso que fiquei triste como sempre. Mas, pela primeira vez, triste por você. Fico me perguntando que outra mulher ouviria os maiores absurdos como você, um homem de 32 anos, planejar ir a uma matinê brega com gente sem assunto no próximo domingo e, ainda assim, não deixar de olhar pra você e ver um homem maravilhoso.
Que outra mulher te veria além da sua casca? Você não entende que eu baixei a música "Midnight Cowboy" e umas boas do Talking Heads, Vinícus de Morais e do Smiths porque achei divertido te fazer uma massa ouvindo algumas músicas que dão vontade de viver. Uma massa que você não vai comer porque está perdendo o paladar para o que a vida tem de verdadeiro e bom. É tanta comida estragada, plastificada e sem sal, que você está perdendo o paladar para mulheres como eu. E você não sabe como vale a pena gostar de alguém e acordar na casa dessa pessoa e tomar suco de manga lendo notícias malucas no jornal como o cara que acha que é vampiro. Tudo sem vírgula mesmo e, nem por isso, desequilibrado ou antes da hora.
Você não sabe como é infinitamente melhor do que acordar com essa ressaca de coisas erradas e vazias. Ou sozinho e desesperado para que algum amigo reafirme que seu dia valerá a pena. Ou com alguma garotinha boba que vai namorar sua casca. A casca que você também odeia e usa justamente para testar as pessoas "quem gostar de mim não serve pra mim".
E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca e seja feliz. E entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz. A gente dá muitas risadas juntos. A gente admira o outro desde o dedinho do pé até onde cada um chegou sozinho. A gente acha que o mundo está maluco e sonha com a praia do Espelho e com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida.
E você me olha com essa carinha banal de "me espera só mais um pouquinho". Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta. Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem.
Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças. E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. E, gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de você. E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa. Eu sei de tudo. E eu passei os últimos anos escrevendo sobre como você era especial e como eu te amava e isso e aquilo. Mas chega disso.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro. E do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu nesses lugares deprê em que procura. E do quanto a sua felicidade sem mim deve ser pouca pra você viver reafirmando o quanto é feliz sem mim e principalmente viver reafirmando isso pra mim. Sabe o quê? Eu vou para a cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de você. Ao invés de estar por aí caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou pra me esquecer. Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração. E não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso. E eu malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem você tanto gosta, mas tenho algo que certamente você não encontra nelas: assunto. Bastante assunto.
Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba. Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos.
Também sou convidada para essas festinhas com gente "wanna be" que você adora. Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser. E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado.

(Tati Bernardi)

quarta-feira, 12 de junho de 2013

De janeiro a janeiro (Música)


Não consigo olhar no fundo dos seus olhos,
E enxergar as coisas que me deixam no ar, deixam no ar,
As várias fases, estações que me levam com o vento,
E o pensamento bem devagar...

Outra vez, eu tive que fugir,
Eu tive que correr, pra não me entregar
As loucuras que me levam até você
Me fazem esquecer, que eu não posso chorar

Olhe bem no fundo dos meus olhos
E sinta a emoção que nascerá quando você me olhar
O universo conspira a nosso favor
A consequência do destino é o amor, pra sempre vou te amar

Mas talvez, você não entenda
Essa coisa de fazer o mundo acreditar
Que meu amor, não será passageiro
Te amarei de janeiro a janeiro
Até o mundo acabar
Até o mundo acabar
Até o mundo acabar
Até o mundo acabar

Mas talvez, você não entenda
Essa coisa de fazer o mundo acreditar
Que meu amor, não será passageiro
Te amarei de janeiro a janeiro
Até o mundo acabar
Até o mundo acabar
Até o mundo acabar
Até o mundo acabar


Composição: Roberta Campos


sábado, 1 de junho de 2013

A rinite me pegou!!!


Metade do ano já se passou, e da noite também. São quase quatro da madrugada, e seu sono vem em pedacinhos miúdos e quebradiços. Está frio e seus olhos estão inchados, lacrimejantes e avermelhados, justificados pela insônia que insiste em deitar em sua cama, e na esperança de conseguir dormir ao menos este resto de noite, você pega a matéria de cálculo II que terá prova daqui a duas semanas para já ir estudando, já que cálculo II são as últimas aulas das sextas-feiras a noite e que consegue fazer com que todos os alunos entrem em estado de bocejamento profundo e dormência, mas as tentativas de fazerem com que as horas passem ou simplesmente adormecer sobre seus livros, são em vão.
E você se pega sentada aí na cama, em meio a livros e papéis, sem estudar diferencial e integral e sem dormir, apenas olhando para aquela parede branca sonsa, que está a sua frente, feito uma estátua, ou simplesmente como boba mesmo. Quem te olha desta maneira, tem a impressão de que você está dormindo de olhos arregalados ou que te lançaram um feitiço.
Amanhece. No despertador já são quinze para as sete, e para não ter que ir trabalhar com cara de zumbi, você toma um banho bem gelado e lava bem o seu rosto. No trabalho, é simpática com todos os clientes, mesmo com seu coração inundado de tristeza, e a sua vontade é de não estar ali, vontade de ir no trabalho dele, entrar de sopetão na sala onde estão várias pessoas que você nunca viu na vida, e gritar com toda sua força que o ama, que a distância entre vocês torna sua vida sem sal, vontade de dizer a ele que o quer por perto, e que as cinco quadras que separam as casas de vocês são cinco quadras imensas e que às vezes, tem a impressão de que você mora no Brasil e ele no Japão, vontade de dizer que a luz do olhar dele te faz querer ser uma pessoa cada vez melhor, dizer que a doce voz dele sussurando está gravada em seu ouvido e que ele é extremamente sexy quando acorda de manhã e te serve o café da manhã que ele mesmo preparou.
E derepente seu chefe chega pedindo um relatório, questiona sua aparência hepática, e você sorri, forçadamente, e justifica dizendo que é a rinite alérgica que te atacara esta noite, mas logo estará melhor.
Aaah... Rinite, rinite, rinite... Rinite de mãos fortes e um sorriso maravilhoso.

(Juscélia Maruti Milagres)